quinta-feira, 10 de setembro de 2009

SALTO DA FÉ

*Por Manoel R. Pessoa Filho

A Teoria de Soren Kierkegaard sobre o “Salto da Fé” leva muita gente que ler filosofia e teologia a refletir esse grau de saída, de solução de inúmeros teoremas existências irresolutos, tipicamente a famosa “angustia” existencial com a qual a humanidade lida desde a gênese criacionista, desde que o ser humano indagou-se a si mesmo.
Na sua ótica o homem se reconhece finito enquanto parte e instante da realização de uma totalidade infinita que se satisfaz na infinitude. A consciência se colocando perante a isso e a seu destino, uma hora ou outra se angustiará, e claramente nenhuma matemática ou vacina pode lhe salvar, a não ser que se abra à fé, condão da existência, um “modo de existir”, assertiu o filósofo. Por conseguinte quando o homem ou mulher tem medo de escolher diante de um leque de possibilidades e de pecar contra Deus, a única saída capaz de amortecer antropológico-metafisicamente, o chá de “ambrósio”, é o Salto da Fé. Premissa esta que indica “passagem qualitativa”, brusca e sem mediação de uma categoria para outra ou de uma forma de vida para outra, da vida ética para a vida religiosa, de um estado de pecado para o plano subjetivo-místico da fé.
O próprio Kierkegaard na sua egrégria obra “Temor e Tremor”, ilustrou filosoficamente que o primeiro patriarca do povo de Israel, na passagem da razão para fé, esta que é transmitida de geração a geração, acentua o paradoxo existente, um dilema: obedecer à ordem divina (ganhar a posteridade), ou desobedecer a mesma, o que acarretaria com sua descendência, uma vez que matasse seu filho Isaac poderia torná-lo indigno de uma nação prometida, e ganharia apenas a vida., sem possuir argumentos capazes de justificar o ato sacrifical à luz da ética humana.
Sabe-se que a fé reúne a meditação e o êxtase, a busca interminável e a visão instantânea da Verdade. A crença, portanto, é agarrada da angústia, o temor de Deus é agarrado do tremor, naturalmente. Abraão de modo aparente possuía , por assim dizer, uma “cegueira santa”, que o salva das dúvidas, no labor e confiança, não na postura de herói trágico que se confia em si mesmo somente e é recompensado nesse solo transitório, mas como ginete da fé, resignado ao infinito, cultivando um silêncio fecundo, “inerme em opinar” e sua obediência ao seu Deus, no clímax de decisão, transcendeu a estética (não se estreitou a falatório ou vaidades ou a ideia de indivíduo que salva...), transcendeu a ética (a idéia do coletivo que salva) e deu seu salto, nada no vazio, na escuridão, reconheceu-se e reconheceu a potência de seu Deus na conseqüência de sua obediência.
Indubitavelmente ele temeu e também tremeu algo que é fruto das paixões humanas e da natureza insuficiente humana. Contudo a mais alta paixão de todo ser humano, a fé, é infalível e nada teme. Pode se dizer que com isso houve um recomeço, um reacender das chamas de sua consciência diante do Absoluto, para e com. Por fim, a fé é equivalente a salto. Ele não optou pelo infinito, o que é imortal.
Acadêmico do curso de Filosofia do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição. Artigo proveniente das aulas de História da Filosofia IV, do profº Pe. Genivaldo Garcia. É um trabalho sem fins avaliativos.

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